terça-feira, 3 de junho de 2008

Bertold Brecht

Os que lutam "Há aqueles que lutam um dia; e por isso são muito bons; Há aqueles que lutam muitos dias; e por isso são muito bons; Há aqueles que lutam anos; e são melhores ainda; Porém há aqueles que lutam toda a vida; esses são os imprescindíveis."

O Analfabeto Político O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo de vida, o preço do pão, do peixe, da farinha, do aluguer, dos sapatos e dos remédios dependem das decisões políticas. O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que da sua ignorância política nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos que é o político vigarista, pilantra, o corrupto e lacaio dos exploradores do povo
Nada é impossível de Mudar "Desconfiai do mais trivial, na aparência singelo. E examinai, sobretudo, o que parece habitual. Suplicamos expressamente: não aceiteis o que é de hábito como coisa natural, pois em tempo de desordem sangrenta, de confusão organizada, de arbitrariedade consciente, de humanidade desumanizada, nada deve parecer natural nada deve parecer impossível de mudar."

Privatizado "Privatizaram sua vida, seu trabalho, sua hora de amar e seu direito de pensar. É da empresa privada o seu passo em frente, seu pão e seu salário. E agora não contente querem privatizar o conhecimento, a sabedoria, o pensamento, que só à humanidade pertence."

SOBRE A VIOLÊNCIA A corrente impetuosa é chamada de violenta Mas o leito do rio que a contem Ninguém chama de violento.
A tempestade que faz dobrar as betulas É tida como violenta E a tempestade que faz dobrar Os dorsos dos operários na rua?


DAS ELEGIAS DE BUCKOW Viesse um vento Eu poderia alcar vela. Faltasse vela Faria uma de pano e pau. FERRO No sonho esta noite Vi um grande temporal. Ele atingiu os andaimes Curvou a viga A feita de ferro. Mas o que era de madeira Dobrou-se e ficou.

SE FÔSSEMOS INFINITOS Fossemos infinitos Tudo mudaria Como somos finitos Muito permanece.

QUEM SE DEFENDE Quem se defende porque lhe tiram o ar Ao lhe apertar a garganta, para este há um parágrafo Que diz: ele agiu em legitima defesa. Mas O mesmo parágrafo silencia Quando vocês se defendem porque lhes tiram o pão. E no entanto morre quem não come, e quem não come o suficiente Morre lentamente. Durante os anos todos em que morre Não lhe é permitido se defender.

PERGUNTAS DE UM TRABALHADOR QUE LÊ Quem construiu a Tebas de sete portas? Nos livros estão nomes de reis. Arrastaram eles os blocos de pedra? E a Babilônia varias vezes destruída-- Quem a reconstruiu tanta vezes? Em que casas Da Lima dourada moravam os construtores? Para onde foram os pedreiros, na noite em que a Muralha da China ficou pronta? A grande Roma esta cheia de arcos do triunfo Quem os ergueu? Sobre quem Triumfaram os Cesares? A decantada Bizancio Tinha somente palácios para os seus habitantes? Mesmo na lendária Atlântida Os que se afogavam gritaram por seus escravos Na noite em que o mar a tragou. O jovem Alexandre conquistou a Índia. Sozinho? César bateu os gauleses. Não levava sequer um cozinheiro? Filipe da Espanha chorou, quando sua Armada Naufragou. Ninguém mais chorou? Frederico II venceu a Guerra dos Sete Anos. Quem venceu alem dele?
Cada pagina uma vitoria. Quem cozinhava o banquete? A cada dez anos um grande Homem. Quem pagava a conta?
Tantas histórias. Tantas questões.

EU SEMPRE PENSEI E eu sempre pensei: as mais simples palavras Devem bastar. Quando eu disser como é O coração de cada um ficara dilacerado. Que sucumbiras se não te defenderes Isso logo veras.

NÃO NECESSITO DE PEDRA TUMULAR Não necessito de pedra tumular, mas Se necessitarem de uma para mim Gostaria que nela estivesse: Ele fez sugestões Nós as aceitamos. Por tal inscrição Estaríamos todos honrados.

LENDO HORACIO Mesmo o diluvio Não durou eternamente. Veio o momento em que As águas negras baixaram. Sim, mas quão poucos Sobreviveram!

EPITÁFIO PARA GORKI Aqui jaz O enviado dos bairros da miséria O que descreveu os atormentadores do povo E aqueles que os combateram O que foi educado nas ruas O de baixa extração Que ajudou a abolir o sistema de Alto a Baixo O mestre do povo Que aprendeu com o povo.

NA MORTE DE UM COMBATENTE DA PAZ À memória de Carl von Ossietzky Aquele que não cedeu Foi abatido O que foi abatido Não cedeu. A boca do que preveniu Está cheia de terra. A aventura sangrenta Começa. O túmulo do amigo da paz É pisoteado por batalhões. Então a luta foi em vão? Quando é abatido o que não lutou só O inimigo Ainda não venceu.

A MÁSCARA DO MAL Em minha parede há uma escultura de madeira japonesa Máscara de um demônio mau, coberta de esmalte dourado Copreensivo observo As veias dilatadas da fronte, indicando Como é cansativo ser mal

REFLETINDO SOBRE O INFERNO Refletindo, ouço dizer, sobre o inferno Meu irmão Shelley achou ser ele um lugar Mais ou menos semelhante a Londres. Eu Que não vivo em Londres, mas em Los Angeles Acho, refletindo sobre o inferno, que ele deve Assemelhar-se mais ainda a Los Angeles.
Também no inferno Existem, não tenho dúvidas, esses jardins luxuriantes Com as flores grandes como árvores, que naturalmente fenecem
Sem demora, se não são molhadas com água muito cara. E mercados de frutas Com verdadeiros montes de frutos,no entanto Sem cheiro nem sabor.E intermináveis filas de carros Mais leves que suas próprias sombras,mais rápidos Que pensamentos tolos,autómoveis reluzentes,nos quais
Gente rosada,vindo de lugar nenhum,vai a nenhum lugar. E casas construídas para pessoas felizes,portanto vazias Mesmo quando habitadas. Também as casas do inferno não são todas feias Mas a preocupacão de serem lançados na rua Consome os moradortes das mansões nao menos que Os moradores do barracos.

NA GUERRA MUITAS COISAS CRESCERÃO Ficarão maiores As propriedades dos que possuem E a miséria dos que não possuem As falas do guia* E o silêncio dos guiados.
* FührerCOMO BEM SEI Como bem sei Os impuros viajam para o inferno Através do céu inteiro. São levados em carruagens transparentes: Isto embaixo de vocês, lhe dizem É o céu. Eu sei que lhes dizem isso Pois imagino Que justamente entre eles Há muitos que não o reconheceriam, pois eles Precisamente Imaginavam-no mais radiante

JAMAIS TE AMEI TANTO Jamais te amei tanto, ma soeur Como ao te deixar naquele pôr do sol O bosque me engoliu, o bosque azul, ma soeur Sobre o qual sempre ficavam as estrelas pálidas No Oeste. Eu ri bem pouco, não ri, ma soeur Eu que brincava ao encontro do destino negro - Enquanto os rostos atrás de mim lentamente Iam desaparecendo no anoitecer do bosque azul. Tudo foi belo nessa tarde única, ma soeur Jamais igual, antes ou depois - É verdade que me ficaram apenas os pássaros Que à noite sentem fome no negro céu.

A MINHA MÃE Quando ela acabou, foi colocada na terra Flores nascem, borboletas esvoejam por cima... Ela, leve, não fez pressão sobre a terra Quanta dor foi preciso para que ficasse tão leve!

TAMBÉM O CÉU Também o céu às vezes desmorona E as estrelas caem sobre a terra Esmagando-a com todos nós. Isto pode ser amanhã.

O NASCIDO DEPOIS Eu confesso: eu Não tenho esperança. Os cegos falam de uma saída. Eu Vejo. Após os erros terem sido usados Como última companhia, à nossa frente Senta-se o Nada.

EPÍSTOLA SOBRE O SUICÍDIO Matar-se É coisa banal. Pode-se conversar com a lavadeira sobre isso. Discutir com um amigo os prós e os contras. Um certo pathos, que atrai Deve ser evitado. Embora isto não precise absolutamente ser um dogma. Mas melhor me parece, porém Uma pequena mentira como de costume: Você está cheio de trocar a roupa de cama, ou melhor Ainda: Sua mulher foi infiel (Isto funciona com aqueles que ficam surpresos com essas coisas E não é muito impressionante) De qualquer modo Não deve parecer Que a pessoa dava Importância demais a si mesmo

UM HOMEM PESSIMISTA Um homem pessimista É tolerante. Ele sabe deixar a fina cortesia desmanchar-se na língua Quando um homem não espanca uma mulher E o sacrifício de uma mulher que prepara café para seu amado Com pernas brancas sob a camisa - Isto o comove. Os remorsos de um homem que Vendeu o amigo Abalam-no, a ele que conhece a frieza do mundo E como é sábio Falar alto e convencido No meio da noite.

SOUBE Soube que Nas praças dizem de mim que durmo mal Meus inimigos, dizem, já estão assentando casa Minhas mulheres põem seus vestidos bons Em minha ante-sala esperam pessoas Conhecidas como amigas dos infelizes. Logo Ouvirão que não como mais Mas uso novos ternos Mas o pior é: eu mesmo Observo que me tornei Mais duro com as pessoas.

QUEM NÃO SABE DE AJUDA Como pode a voz que vem das casas Ser a da justiça Se os pátios estão desabrigados? Como pode não ser um embusteiro aquele que Ensina os famintos outras coisas Que não a maneira de abolir a fome? Quem não dá o pão ao faminto Quer a violência Quem na canoa não tem Lugar para os que se afogam Não tem compaixão. Quem não sabe de ajuda Que cale.

ACREDITE APENAS Acredite apenas no que seus olhos vêem e seus ouvidos Ouvem! Também não acredite no que seus olhos vêem e seus Ouvidos ouvem! Saiba também que não crer algo significa algo crer!

COM CUIDADO EXAMINO Com cuidado examino Meu plano: ele é Grande, ele é Irrealizável.
OS ESPERANÇOSOS Pelo que esperam? Que os surdos se deixem convencer E que os insaciáveis Lhes devolvam algo? Os lobos os alimentarão, em vez de devorá-los! Por amizade Os tigres convidarão A lhes arrancarem os dentes! É por isso que esperam!

NO SEGUNDO ANO DE MINHA FUGA No segundo ano de minha fuga Li em um jornal, em língua estrangeira Que eu havia perdido minha cidadania. Não fiquei triste nem alegre Ao ver meu nome entre muitos outros Bons e maus. A sina dos que fugiam não me pareceu pior Do que a sina dos que ficavam.

PARA LER DE MANHÃ E À NOITE Aquele que amo Disse-me Que precisa de mim. Por isso Cuido de mim Olho meu caminho E receio ser morta Por uma só gota de chuva.

DE QUE SERVE A BONDADE . De que serve a bondade Se os bons são imediatamente liquidados, ou são liquidados Aqueles para os quais eles são bons? De que serve a liberdade Se os livres têm que viver entre os não-livres? De que serve a razão Se somente a desrazão consegue o alimento de que todos necessitam? 2 Em vez de serem apenas bons, esforcem-se Para criar um estado de coisas que torne possível a bondade Ou melhor: que a torne supérflua! Em vez de serem apenas livres, esforcem-se Para criar um estado de coisas que liberte a todos E também o amor à liberdade Torne supérfluo! Em vez de serem apenas razoáveis, esforcem-se Para criar um estado de coisas que torne a desrazão de um indivíduo Um mau negócio.
A Cruz de Giz Eu sou uma criada. Eu tive um romance Com um homem que era da SA. Um dia, antes de ir Ele me mostrou, sorrindo, como fazem Para pegar os insatisfeitos. Com um giz tirado do bolso do casaco Ele fez uma pequena cruz na palma da mão. Ele contou que assim, e vestido à paisana anda pelas repartições do trabalho Onde os empregados fazem fila e xingam E xinga junto com eles, e fazendo isso Em sinal de aprovação e solidariedade Dá um tapinha nas costas do homem que xinga E este, marcado com a cruz branca é apanhado pela SA. Nós rimos com isso. Andei com ele um ano, então descobri Que ele havia retirado dinheiro Da minha caderneta de poupança. Havia dito que a guardaria para mim Pois os tempos eram incertos. Quando lhe tomei satisfações, ele jurou Que suas intenções eram honestas. Dizendo isso Pôs a mão em meu ombro para me acalmar. Eu corri, aterrorizada. Em casa Olhei minhas costas no espelho, para ver Se não havia uma cruz branca.
As margens Do rio que tudo arrasta se diz que é violento Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem
O Vosso tanque General, é um carro forte Derruba uma floresta esmaga cem Homens, Mas tem um defeito - Precisa de um motorista O vosso bombardeiro, general É poderoso: Voa mais depressa que a tempestade E transporta mais carga que um elefante Mas tem um defeito - Precisa de um piloto. O homem, meu general, é muito útil: Sabe voar, e sabe matar Mas tem um defeito-

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